Páginas

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Momento


Como sempre, como em todos os tempos da vida de que sou capaz de lembrar (e não são tantos assim) algumas coisas e desgastes se enraizaram. Com cuidado a memória tenta ser alimentada, com cuidado, com receio. Tanto tenta lembrar quanto tenta esquecer... Os conselhos ditos como ordem, as preocupações apresentadas como criticas. Me parece inacreditável como os rostos das pessoas não deixam explicitas todas as coisas das quais elas tentam fugir. Não entendo como alguém não percebe nos seus olhos todos os conflitos. A sensação forte de que eles estão presos no meu rosto, no comportamento das mãos, do corpo inteiro me faz sentir a necessidade de falar sobre eles. Não tenho medo da exposição que as pessoas evitam e me aconselham a evitar. Acho meio paranoica a preocupação com o que as pessoas podem pensar ou falar. Acho meio forçada a proclamação de liberdade... De sentimentos livres que as pessoas só mostram quando falam enquanto se deixam compor por comportamentos cheios de preconceitos e limitações. Enfim, não me cabe avaliar comportamentos alheios, desde que deixem os meus em paz.

Não vejo grandes vantagens em viver as certezas da vida. Ou, pelo menos, não acho nem um pouco interessante. As organizações podem ser aleatórias e posso ir descobrindo, redescobrindo  todas as impressões anteriores, tudo o que ainda está por vir. O tempo tem sido cuidadoso demais, como se não me conhecesse.  Tem tido paciência.

Como quem não me conhece as pessoas me pedem calma. Indicam caminhos que estou habituada a não seguir. Não sou de guardar impulsos, preciso soltá-los, vivê-los, ir absorvendo e articulando cada uma das palavras que deixo no ar. Eu escrevo, mostro, só depois posso repensar. O momento está aqui. Os instantes mudam e eu posso mudar. Mas nesse segundo é isso. Ponto.  

terça-feira, 26 de julho de 2011

Saudade


Já estivemos lá fora num dia como esse. Já passamos horas olhando o movimento do céu. Já fomos quase uma pessoa só. O sol da manhã já entrou de leve pelas frestas da janela do nosso quarto. Já sentimos tantas coisas comuns até o dia em que esquecemos um do outro e deixamos a vida nos desgastar naturalmente. De vez em quando nossos rostos ainda se encontram, de vez em quando ainda nos falamos, de vez em quando as imagens do dia nos lembram do que hoje parece tão distante. O que faz uma marca como essa cicatrizar? Se é que é desejo de algum de nós que cicatrize. 

Outro dia me peguei rodeada de algumas fotos, de algumas lembranças, rodeada dos dias vividos e de todos que imaginei. Daqueles possíveis reencontros tão desejados em algum momento que já não lembro quando. Me vi cercada de sentimentos que ainda não consegui afastar. E o que sinto agora? Vendo esses outros rostos que passam,  ouvindo outras vozes, sentindo outras peles, o que ainda é possível preencher longe da memória? 

Lembro da sua mão segurando a minha, lembro dos seus olhos, das suas gírias, do rosto, das lágrimas e sorrisos, dos cuidados, dos ciúmes, do sentimento que nunca fomos capazes de nomear. Só passamos um tempo nos desejando perto um do outro. Só passamos um tempo distante das certezas. Só passamos um tempo juntos. E foi, e quando lembro ainda é, uma das saudades mais fortes. Éramos tão diferentes. Continuamos tão diferentes. Mas de alguma forma, mesmo com o tempo que dizem que faz curar, você ainda se mantêm em mim.  

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Encontros


Em alguns momentos o melhor a fazer é deixar as pessoas irem, mais que isso, é também se deixar ficar, se deixar parada observando esse afastamento que sob outras faces já aconteceu tantas vezes. Em algum momento o silêncio se tornou um incômodo, você não só não conseguia olhar como sentia repulsa dos olhos focados no seu rosto, as palavras começaram a parecer sempre dúbias, sempre irônicas, sempre frias... E devagar, sempre devagar, você não só deixou como desejou estar cada vez mais longe, ficou buscando todas as palavras e atitudes erradas, escreveu tudo o que podia para que em uma leitura rápida a identificação o afastasse. Escolheu os caminhos mais longos e, principalmente, os que mais machucassem. Aqueles que deixam marcas irreversíveis, e mais que isso, que lhe dão algum sentimento sobre o qual escrever.

Os últimos dias aproximaram algumas pessoas, fizeram a identificação ser quase insuportável como se olhasse pro outro e se visse refletida ali, em quem partilha as impressões do mundo, tem os cuidados com personagens e com sentimentos que preenchem essas linhas. As conversas rodeadas por um pôr-do-sol alaranjado que nos deixa sem palavras e sem sentimentos palpáveis, ainda que estejam lá. Amores diferentes que preenchem essas vidas e sonhos parecidos.

Queremos ser parte da cidade, nos sentimos em falta com ela, nos apaixonamos, nos surpreendemos e percebemos em cada pessoa uma história maravilhosa que pode ser escrita e sentida como única. Temos medo de algumas felicidades, medo que elas nos suguem  e nos afastem do que é tão forte em nós, medo que o sofrimento, que a dor perdida leve também essa capacidade de contá-la, de vivê-la entre linhas ao ponto de sofrer a cada gesto, palavra, a cada voz.  

Acho que somos ainda mais fortes do que imaginamos. Acho que somos ainda mais felizes do que imaginamos. Temos uma companhia que revela mais do que outras pessoas. Construímos nossas histórias através de um olhar observador (que as vezes tem medo de ser participante) [ isso falo por mim]. Mas, ainda assim, ela está lá. As páginas amareladas de um bloco de notas, as telas brancas de uma caixa de texto, vão sendo preenchidas [as vezes mais lentamente do que desejamos] e elas também nos preenchem, tão bem nos conhecem e tão bem nos sufocam. Nossas vozes ali gritam, em uma leitura apressada talvez o mundo não perceba mas estamos lá. Tão vulneráveis e tão fortes, tão impulsivos e tão cuidadosos. Nos entregamos em cada uma das linhas, superamos o medo das impressões alheias. Aprendemos a crescer por nós mesmos.

Pelo visto a felicidade sempre esteve por aqui e nada melhor do que reconhecer  e partilhar isso.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Efêmero?

Não sei o que estava esperando. Talvez desviar meus próprios sentimentos acreditando no poder "sobrenatural" de quem partilha um amanhecer. A janela enquadra uma imagem inspiradora e você ingenuamente começa a pensar no quanto momentos rasos podem mudar tudo, no quanto instantes podem construir ou destruir alguns amores. O que cada pessoa tem de essencial? O que torna alguém tão efêmero na vida de outra pessoa? Talvez essa sensação e comportamento irritantes de tão explícitos. Talvez a perspectiva com que começa a perceber a vida dos outros e sua participação nela. Ou talvez essa sua mania tão característica de entregar de bandeja todas as suas fragilidades e contradições. 





Fato que não fomos feitos um pro outro [ processo de convencimento de que isso realmente não existe]. Não sou o estereótipo de mulher que costumo encontrar por perto nos últimos dias [e, definitivamente, não desejo ser]. E você... Talvez seja mais do que esse estereótipo... mas isso não vem ao caso agora. O que eu, afinal, espero ou penso que deveria fazer? Ter uma conversa? Claro, não seria novidade. Chamar pra tomar um café? Feito. Acompanhado sempre da minha nicotina irritante e das lições sobre o quanto me faz mal [mais irritante].

Duas decisões tomadas. Só preciso retomar esses aparentes laços de amizade e despejar o que eu nem sei se é de verdade [ e isso é porque falo só por mim]. É isso? Talvez uma personagem do século passado, retrasado... de um desses livros "presos" na minha estante tenha mais certezas do que eu. Talvez a intenção disso tudo seja me observar à distância e construir um retrato [em frases] que amplifica as características tão extremas da personalidade de um sentimento em formação. 

Se as experiências frustradas vão realmente preencher alguns desses dias tudo o que posso fazer é beber doses duplas desses amores, desejos, perdas... Pra amar, sofrer ou chorar preciso que as noites sejam mais longas. É preciso convencer o sorriso de quem insiste em olhar pra mim. Se não for convincente? Muda-se de companhia e, de novo, os sentimentos começam a alternar. 

A noite não é perfeita sem algumas marcas no papel. A noite não é suficiente se não me faz achar, por alguns segundos, que fui capaz de absorver tudo e mudar de ideia, de rumo, até a nova segunda-feira começar. O trânsito de expectativas deixa o dia parado. Fato que "a carta não chega, que o telefone não toca", que nenhuma janelinha pisca no canto inferior da tela. Importa? [Tentando escrever como tenho o hábito de falar]. Foda-se. Ideia idiota essa minha de impregnar o corpo e sei lá mais o quê com essas faces interessantes de quem você imagina conhecer. 



O tumulto, contraditoriamente, é o que mantêm a minha ordem. Será que alguém ainda não percebeu isso? Se alguém espera facilidade por aqui, que mude de rumo. Tenho alguns caminhos expostos... Setas reluzentes com as dúvidas, receios, constrangimentos [ os de agora e os que ainda vão surgir]. Se estagnar é o pior defeito já encontrei minha hora de mudar. Ou melhor, de soltar as paranóias reclusas, deixá-las viverem sem mim, e correr. Abraçar o mundo [metaforicamente, claro] e entregar, de fato, a alma pra liberdade que eu fico proclamando aos quatro ventos. 

::: 19.07.2011  

*Imagens: http://weheartit.com/

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Amor?



Me apaixonei. Assim como qualquer mulher se apaixona, por uma imagem, por uma ideia, pela sensação de estar assim. Tudo isso antes de me apaixonar por qualquer pessoa. ok. Primeiro passo pra curar qualquer vicio, todos dizem, está em aceitar, assumir. Tá, a partir daqui tudo certo,  eu assumo. Diante de qualquer um, exceto o "mais" ou "menos" interessado na historia, eu assumo, aceito... o que for. Falo das complicações, dos desejos, das impressões infundadas, das certezas confusas. Talvez fale mais ainda do medo, o medo corrente nessas rupturas que qualquer "decisão" tida como certa causa. 

Aliás, qual pode ser a decisão certa? Aquela do impulso, da tomada de fôlego de quem passou tanto tempo sem respirar? [Essa tem um toque de amor ou de qualquer um desses sentimentos...] Ou aquela planejada, cuidadosa, que vai sentindo e testando o território antes de "se jogar"? [Essa não me parece ter vínculo com sentimento nenhum].

Diante disso, qual é a dúvida? Qual é o medo? A escolha está entre sentir ou tentar "maquinizar" um sentimento. Em que momento eu consigo pensar: tudo bem, eu vou olhar diferente, vou filtrar isso  e a gente volta ao zero, sendo amigos como "sempre"? Tempo ralo esse, que mais passou a impressão do que fez conhecer de fato. 

Isso é o que, afinal? Paixão, desejo, amor, amizade mal compreendida, medo, orgulho, carência...? Que *** de sentimento é esse que fica tentando doutrinar os meus impulsos? Justo eu que me vangloriava das experiências efêmeras,das noites longas, das paranóicas historias paralelas... Esperaria de qualquer pessoa, não de mim. 

Tá certo, admito que entrei num rumo diferente em alguns momentos, deixei sei lá o quê subir à cabeça e ir regando relações sem sentido (só em mim) quase sem me dar conta. Chorei, sofri... sozinha num canto, publicamente em tantos. No geral fui uma pessoa comum, só que exposta, na tendência obscena de me entregar em simples conversas como um livro aberto. Não sei se conseguiria ou deveria ser diferente. No fundo, acho que não, ainda que fique tentando me forçar a mudar.

Eu vivo e escrevo em primeira pessoa. As vezes sendo um "puro" personagem, imaginado sob referências e sentimentos diferentes dos meus. A intenção de confundir as pessoas as vezes me confunde e eu não sei mais se sou a mulher frágil ou forte, se sou capaz de me apaixonar ou se vivo dando rasteiras nos sentimentos alheios. Acho que sou vítima de mim mesma ainda que insista em tentar culpar o mundo. 

Diante de tantas coisas que se pode querer da vida, falei para um amigo outro dia que só quero que alguém me ame. E mais rápido do que qualquer dúvida possível ele só pôde falar: - Isso você já tem.

::: 18.07.2011


Reflexo

 
Em permanente encontro com o reflexo na intenção de deixar à mostra mais que o próprio rosto. Deixando fluir pelo sorriso, pelos olhos, pela voz toda a incoerência que lhe é própria. Não é preciso provar nada a mais ninguém, em minhas conversas aleatórias vou contando pro mundo, pra mim mesma os sentimentos mais fortes e mais confusos que alguém pode ter. Os dias vão indo, seguindo naturalmente, deixando as marcas anteriores pra trás... Em encontros com a memória consegue aprender. O tempo já encontra suas próprias barreiras, então, que os dias venham mais livres do que eu posso suportar.