Páginas

terça-feira, 30 de agosto de 2011

um

Aquela frase que você realmente quer dizer sempre soa mais aceitável seguida de um travessão ou dispersa entre aspas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Passa...

500 dias com ela

Não. É claro que ele não tornaria as coisas mais fáceis. Seria forçada a falar cada uma das palavras. De como começou a sentir... falta... ciúmes... talvez, amor. Passando pela confusão que criou em torno de um sentimento que só achava que sentia. Até chegar ao momento em que percebeu que passa.
- Passou?
- Claro que passou. Não sei o que tinha na minha cabeça pra achar que você e eu... nós... Sei lá, pudéssemos ter alguma coisa, qualquer coisa. O que importa é que não importa mais. Certo?
- Certo. Eu até achei que tivesse alguma coisa...
- Achou?
- É, por um tempo. Mas se já não importa é melhor não falar sobre isso.
- E se importasse?
- Se importasse? Como assim?
- Se ainda importasse, se eu ainda achasse que sinto... sentia... alguma coisa... você sabe... por você?
- Não sei, parece que a gente sempre foi um ombro um pro outro. É meio estranho pensar nisso.
- É verdade. Você falava, você falava, você falava, daí eu falava... Não parece tão equilibrado.
- E não era. Mas acho que você inverteu os papéis.
- Acha? Lembro de desabafos maiores vindos de você durante horas ao telefone. Até porque a minha vida sempre foi quase pública, rodada dupla em mesa de bar. Perdeu a graça até pra mim.
- O que perdeu a graça?
- Tudo. A vida, cotidiano chato, até você.
- Eu?
- É. Tudo a gente supera algum dia.
- Tem certeza? Tem coisas que não parecem ter passado pra você...
- É? Tipo o que? Você fala do... nem lembro mais o nome... a historia... a cidade...
- E tá tentando convencer quem disso? A mim não convence.
- Nem preciso. Se eu consegui me convencer e inverter um sentimento por você já foi suficiente.  E dizem que essas coisas não ajudam.
- E ajudam?
- Claro! Ou você vai colecionando frustrações amorosas sozinha, ou vai deixando as pessoas chegarem , entrarem e te ajudarem a esquecer momentaneamente.
- E funciona?
- Se funciona. Foi o que você me ajudou a fazer.

Conversa


- Tudo bem, o dia não foi exatamente como esperava...
- Não?
- Que pergunta, claro que não! Achei que você me conhecesse melhor...
- As vezes é quase impossível te conhecer bem. Dá pra explicar?
- Talvez... se eu conseguisse ... podia ser mais fácil. Não sei. Não estou triste nem depressiva, o que seria comum, nada assim. Só parece que surgiu uma raiva tão... insuportável...
- Raiva de que?
- Ah, você não entenderia (claro que não!). Ninguém. Acho que é por isso que eu explodo, chega num limite.
- Se você explicar, quem sabe? Fala, você sabe que eu posso te entender. Acho que não tem nada que a gente não tenha conversado ainda.
- Até com você tenho os meus limites. Você é uma ... pessoa, uma daquelas com sentimentos, com limites...
- E você não?
- As vezes acho que não. Parece que tem umas dez pessoas ( na verdade bem mais) dentro de mim.
- Ah... acho que em todo mundo. Ninguém é feliz e equilibrado o tempo todo..
- Tá vendo? Eu disse que você não ia entender. O pior hábito, aquele mais insuportável pra mim é essa mania irritante... Você mal começa a falar e o mundo já está aí (como você) se justificando o tempo todo.
- Eu não tô me justificando... tô dizendo que isso não acontece só com você.
- Tá certo... sempre aquela velha história, que a grama do vizinho é mais verde, que a família do amigo sempre é mais feliz. Cansei desse discurso, anos de prática, já aprendi a deixar passar.
- Ah, juro que não consigo entender...
- É claro que não, você é uma pessoa, por que seria diferente do resto do mundo?

[Achava que algumas pessoas pudessem me entender pelo olhar. Mas não, elas não podem.]

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Eterno

As experiências, as felicidades diárias de uma garota que viajava no colo da avó, que brincava no quintal, tomava banho de cachoeira, fazia panelinhas de barro, construía casinhas de palha, pintava, desenhava. Corria pela cidade, praças, ruas... andava e caia de bicicletas maiores que ela. Sonhava... aqueles sonhos de lugares mágicos, de histórias que tornaram-se lembranças. Essas lembranças eram personificadas em duas pessoas (meus avós), era no quarto deles que eu dormia de rede, era com eles que eu passava, pelo menos duas vezes ao ano, a madrugada viajando ao interior. Era sobre essa cidade que eu escrevia aquelas redações de férias no colégio. Eram essas as histórias que eu tinha pra contar. A felicidade daqueles dias machuca, por já não poder chegar em casa e abraçar um deles. Ainda lembro dos olhos que nos deixaram há dois anos. De vez em quando o amor dói, mais ainda quando percebe que nunca foi capaz de falar. De deixar claro. De gritar todo o orgulho, admiração e amor que sentia (sinto) por ele.  
O que se faz depois de abandonar o lugar mais tranquilo do mundo?  As pedras da igreja. Toda a calma das lápides. Corre pela cidade sem ruas asfaltadas, sem luz em longos trechos. Uma cachoeira sem água, a serra que foi secando ao longo do tempo. Engenhos. Canaviais. Meu vô sentado na calçada, cadeiras de balanço esperando companhia. Sempre chegam. Portas abertas. Casas coloridas, sem muros. Chega a ser fascinante só observar. Feira aos domingos. Véspera de natal. Festa no clube. Missa lotada na igreja da sé. Um mundo. Daqueles difíceis de se ver. As telhas antigas. Retratos pintados. No quintal, o jantar. Vento forte, enche os olhos de poeira. Chega a chorar. Chega perto. Como se todos o conhecessem e conhecem. Pedem benção. A vista gasta mal reconhece. Assim vive. Tão pleno e lúcido. Dias iguais. Um bingo de fim de ano. O sino de cinco em cinco minutos anunciando horários. Que todos seguem. Anoitece, como se cada dia fosse o último. Diz adeus. E sinto saber que nem tudo é eterno. Talvez ali seja. Dentro daqueles limites,  que não precisam de muros. Em que ainda sorriem e desejam bom dia uns pros outros. Onde o dia realmente começa com o cantar do galo.
E quando começa o dia? Talvez às duas da manhã, quando se dá conta que tem algumas estrelas e casas além da janela do ônibus. Sozinhas. Existindo a beira da estrada. Nascendo. entre um sono e outro, uma cidade e outra.
[26.12.2006]

terça-feira, 23 de agosto de 2011

[...]

"Leia algo do que eu escrevo pelo prazer de o ler. Qualquer outra coisa que achar será a medida daquilo que você trouxe para a leitura".

"Uma pergunta delicada não é um prazer nem um incômodo. Ainda acho, mesmo assim, que é muito ruim para um escritor falar sobre como ele escreve. Ele escreve para ser lido com os olhos; [...] Você poderá ter certeza de que haverá muito mais coisas lá do que uma primeira leitura perceberá, e não é da competência do escritor ter de explicar o que fez, ou conduzir visitas guiadas através das paragens mais difíceis da sua obra". 

(Ernest Hemingway, Entrevista 1958)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Silêncio, percurso...

Porque é com o silêncio que você conversa. É ele que  passa a noite te aconselhando enquanto o corpo não consegue descansar. 

Passou por várias pessoas, jogou cumprimentos à distância, se aproximou constrangida e soltou os excessos comuns daquelas noites que só terminam quando o dia amanhece. É quando sai andando sozinha pelas ruas da cidade...  Ali a manhã solidariza-se com você, ela se deixa ser linda naquele dia em que solidão e silêncio não poderiam ser melhores companhias. 

Foi incansavelmente repetitiva. O que é mais forte que lhe tira o controle? Será que importa depois que esses dias passam? Por fim, amanhece descansada com historias que já nem são tão comuns quanto esperam. 

Dentre as conversas de alguns dias guardei fragmentos, palavras soltas ditas em voz alta e tantos diálogos imaginários que falam  e lapidam a memória. Hoje reservo meu direito ao silêncio, o direito à solidão dos percursos. 

O direito aos encontros, de algumas palavras soltas, elogios explicitos, descobertas, admirações, vicios. Sem pensar em consequências ou cuidados paranóicos. Deixa o tempo cuidar. Amanhã é outra conversa. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

[...]

"Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encademaento do primeiro elo em um dia memorável".

(Charles Dickens)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tempo...

E me disseram que o tempo ensina... E eu passei a vida tentando me convencer disso. Mas ninguém diz como não ter medo... Como não me arrepender. Como seguir em frente em uma hora assim. Ao mesmo tempo ninguém além de mim é capaz de entender... Nada que eu fale hoje pode me fazer entender. Tudo o que eu consigo fazer é sentir saudade das coisas que já passaram e das pessoas que eu não vejo mais. Preciso que alguém cuide um pouco de mim. Porque sozinha tem sido difícil... Como se continuar tivesse deixado de ser simples. De repente o que eu achei que precisava de coragem pra fazer tomou algum fôlego. De repente as coisas não parecem ter muito sentido. E as coisas não parecem estar a meu favor. Em um dia tudo cresceu aqui dentro, tudo começou a doer, a ferir o corpo com marcas que eu não provoquei. E eu nem sei o que veio pra doer tanto. Nem eu sei de que quero tanto fugir. Só tornei o dia insuportável e o tempo decidiu me abandonar. E todos esses sentimentos que começavam a fazer sentido se perderam outra vez. Não achei que alguma vez fosse incapaz de lidar com certas perdas, não achei que alguma vez fosse desejar tanto que o tempo passasse o mais rápido possível pra ver se esses sentimentos criam força pra passar também. Só estou com medo. Um medo que nunca senti. Nunca. Medo de que as coisas continuem iguais, medo de que independente de qualquer coisa eu só tenha que continuar [...]. Tem sido difícil, tem me sugado o sono e os sonhos. Tem criado sentimentos novos que achava que não existiam aqui. Tem me forçado a pensar em mim mesma. Tem me feito ver meu reflexo real. Aquele que não tinha coragem de mostrar, de admitir. Aquele que me entrega vulnerável, sem cuidado. Sem a proteção da primeira impressão. Não quis ser fácil de entender, aprendi a me esconder. Em cada uma das cuidadosas palavras que era capaz de falar em voz alta. Esse encontro com o reflexo me trouxe de novo pra mim. Estou só um pouco cansada. Quem sabe amanhã eu volte. Quem sabe amanhã tudo pareça melhor. E eu consiga voltar a acreditar que o tempo muda as coisas, que faz tudo passar. Por enquanto estou aqui despejando a vida, deixando tudo ainda mais em carne viva. Até ser capaz de me convencer. Até ser capaz de me deixar em paz.