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terça-feira, 24 de abril de 2012


Decidi não falar muito alto dessa vez, emendar um sussurro no outro, explodir esses sentimentos de pura incoerência. Acordando antes do sol, o deixando ir lhe banhando pelas frestas da janela até decidir levantar.

Levantar para a vida que se abre tão lentamente, tão delicadamente. Seus passos caminham naquela mesma direção, naquele instinto que absorve os sentidos do ambiente. Sem pensar eles seguem. Tão devagar quanto pode, tão rápido quanto deve. 

Os instantes separam a noite do dia, de alguma forma também nos separam. Da junção deles podemos nos encontrar pelo meio do caminho. Esbarrar em uma rua comum, sorrir pelo canto da boca, fingir nossa intimidade, explicitar nossa distância. Alimentar.

Alimentar o espaço que se forma entre nós. Torná-lo palpável, visível. Os que nos assistem já podem perceber a primeira vista, já não há mais nada. O pouco tempo fez curar. 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Buscando o silêncio


A tranquilidade não é fácil de ser assistida. Os pés e as mãos ficam inquietos, o sorriso e o olhar ficam passeando pelos lugares. Aqueles que lhe afligem a memória, aqueles que contam de si mais do que a voz. Perdeu-se entre os cuidados alheios. Procurou a simpatia escorregadia dos sentimentos alheios. Deixou-se naquele confuso mundo de outras pessoas. Existia para essas outras impressões. Essas... Essas com as quais não pode contar. Porque o tempo não foi suficiente para que se fizesse entender. E talvez nunca seja. Escorrega em direção à própria vida. De uma á outra respiração, corre prendendo, segurando o fôlego, alimentando esperanças frágeis que se dispersam na primeira busca sem resposta. Olhou pra tela. Olhou pras telas. Aquelas que ficam tentando usurpar a sua vida. Aquele mundo paralelo que lhe preenche em horário comercial, que lhe preenche pela madrugada adentro. Que lhe suga em tempo integral. E sem resposta a respiração pausa. Ela deita com o olhar diferente. Com o sorriso parado. Aquele que não reage mais. Aquele que se acostumou. Buscando um utópico estado de paz absoluto. Buscando isolar-se das multidões que vivem em sua cabeça. 

Buscando o silêncio. 

domingo, 22 de abril de 2012

"Eu a amava, em suma. E era infeliz. Mas como poderia ela algum dia entender essa minha infelicidade? Há aqueles que se condenam ao cinzento da vida mais medíocre porque tiveram alguma dor, alguma desgraça; mas há também aqueles que o fazem porque tiveram mais sorte do que podiam suportar". 

(Italo Calvino)

terça-feira, 17 de abril de 2012

O que pôde fazer? Correr. De um prédio fechado, as paredes que se fechavam em torno de si. E corria. Como se pudesse passar por elas. Como se fugisse e ao mesmo tempo fosse de encontro aos seus medos. Estavam todos lá, tão presos quanto eu, mas parados. Comportamentos diferentes, com certeza.

Quem é capaz de correr e me encontrar na porta?

Sei que nossos medos, receios são os mais diversos. Sei que eles não se encontram em um ponto e passam a caminhar juntos. Sei que cada um tem suas próprias referências, vontades, desejos... Será que em alguma parte do caminho eles podem se encontrar outra vez? Ou será que fingimos demais, que mantemos os nossos sonhos calados para tentar viver essa coincidência?

Uma breve coincidência.

Uma que não lhe deu tempo de falar ou demonstrar qualquer coisa, além da reserva que tem em relação a qualquer outra pessoa que chegue perto e ocupe um pouco os seus pensamentos.

Foi do jeito errado? Já não dá pra saber e talvez nem mesmo importe.  Essa intenção de progredir com a vida em fases, de ir amadurecendo, crescendo... Em alguns pontos encontra falhas. Em algum ponto todos nós somos extremamente imaturos, não é a idade ou o que já viveu antes que dita certo sentimentos. As diferenças estão em quem consegue ou não contê-los, disfarça-los, fingi-los.

Passamos de um ponto para outro. Do que começa ao que acaba. Do que alimenta ao que mata algumas esperanças. A vida é cheia desses clichês que parecem obra do acaso, que parecem contar e coincidirem na vida de cada um. Somos diferentes, definitivamente. E, ao mesmo tempo, tão iguais. Tão insensatos, tão difíceis, tão complexos...

Dias

É assim que acontece um dia.

Em um dia você aprende a sufocar esses sentimentos. 
No outro decide abrir as portas do mundo. 
Em um dia sente falta. 
No outro acorda com um sorriso incontido no rosto. 

Aquele simples dia em que volta à sua determinada tranquilidade e leveza.

A sucessão de dias.

O tempo que vai sendo preenchido. 

Dispersa os próprios excessos e deixa a calma entrar.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Aprendi a arte da insistência do jeito errado. É como se me colocasse sempre diante das coisas, como se deixasse esse ir e vir, esses caminhos meio escuros que vão se abrindo tomarem conta de parte dos meus dias. Nem sei como. Já me orgulhei das minhas características mutáveis, daquele aprendizado que vai correndo junto com você em direção a qualquer coisa que lhe pareça bom naquele breve momento. Depois de instantes, no máximo alguns dias, o tempo muda, o humor muda, o sentido daquela decisão que anteriormente parecia tão acertada e esperançosa fica meio difuso. Você se pergunta se deveria ter parado e pensado um pouco mais, se deveria ter dado mais chance aos dias nublados, solitários, leves, calmos... Será? Será que a minha capacidade de encarar a vida tranquilamente sustenta outra pessoa? Será que a minha felicidade consegue absorver as concessões que têm que ser feitas? Será que eu sou realmente capaz disso? Dessa insistência. Dessa dúvida. Desse excesso de cuidados do que pode ou não ser dito, do que pode ou não ser feito?

segunda-feira, 9 de abril de 2012

...

A gente conversa durante algum tempo. Um fingindo que ouve o que o outro fala. Os dois tentando adivinhar o que sentem. Quanto tempo dura as incoerências entre os sentimentos e as suas ações? Até quando resiste ao tempo incompleto que o mundo lhe dá? Estou sempre indo de encontro ao que deveria ser a minha tranquilidade. Será que realmente adianta insistir, adianta sufocar isso, adianta tentar? Quando o equilíbrio se dispersa essas minhas mesmas histórias perdem o sentido. Já não me sinto suficiente. De um dia pro outro não me sustento mais, não completo mais. Sou uma fração, um pedaço, uma parte minha da qual sempre tento fugir. Uma parte que tenta sufocar, uma que me tira o sono, a paciência... Uma que aparece do nada pra tomar o lado bom das coisas que eu posso viver. Preciso me soltar dessa parte... Preciso voltar...