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quarta-feira, 27 de março de 2013

Barba ensopada de sangue - Daniel Galera




Tão melhor do que eu esperava. A sinopse pode dizer sobre o que o livro é, pode apresentar o inicio da história, incluir seus personagens e induzir o interesse. Não foi assim. Adentrei pelas páginas do livro sem apresentações. Pelo nome do autor, indicação de uma amiga. Me apresentei meio recatada a uma das ótimas experiências literárias que chegou de uma coincidência. Não vejo melhor forma de se identificar com as pessoas do que falar sobre um bom livro, uma boa música, do que falar sobre os sonhos e histórias que em algum momento a vida já sugeriu pra você.

Honestamente, no inicio me pareceu um personagem tão sem atrativos, com a vida comum e cotidiana que já nos impregna o suficiente. Em um inicio breve, tão breve. Talvez somente nas primeiras linhas, talvez só pelo meu afastamento involuntário de obras puramente literárias. Andava imersa em histórias e pesquisas e entrevistas. Tão melhor voltar dessa forma, com esse livro. Com uma conquista que foi se consolidando a cada página, em cada encontro do personagem, em cada imersão, quando o autor consegue fazer com que tenha a impressão de que esbarrou com essa pessoa pelas ruas, que andou pela orla dessa praia e acenou pra ele que não demonstrou nem sinal de reconhecimento. 

Alguns trechos ecoam, algumas frases lhe fazem sentir próxima. E de uma forma realmente estranha é difícil desapegar. Como se a água salgada em busca da sobrevivência não lhe tivesse sufocado o suficiente, como se a recuperação da cachorra não tivesse sido assistida o suficiente, como se o encontro imaginado, como se as imagens imaginadas por anos estivessem perto de concretizar e você não “assistiu”. Como se houvesse uma grande reviravolta por vir. Daí percebe que não é nisso que a beleza do livro chega ao extremo, é uma vida condensada de experiências que não precisariam ser extremamente exploradas pra fascinar, bastava. 

Os contos que a vida nos apresenta cotidianamente, as conversas que temos durante, os encontros que temos, as coisas em que esbarramos, as lendas e histórias familiares, o desmembramento da nossa árvore genealógica, são detalhes da vida que parecem tão mais interessantes agora.

Surge um sorriso involuntário de despedida no meu rosto fechando o livro. A história não se encerra na minha cabeça essa noite. 

Amanhã abro espaço pro encantamento do novo.