A ausência do cotidiano me deixou meio
à margem. Poucas coisas surgem e materializam o que ainda não consegui de fato
digerir. Poucas dores ficam assim. Guardadas, esperando um ou outro sinal, uma
ou outra palavra, esperando que a consciência volte pra te fazer sentir tudo de
uma vez, tão atrasado. Tão solitário. Sou de tempos diferentes. Sempre soube.
Deixo o sentimento ser nutrido infinitamente, acompanho o passado a uma
distância segura. Sem deixar romper, sem deixar passar. Isolo os sentidos, os
sons e vou construindo histórias pela memória. O som da voz ainda é vivo aqui.
Ainda consigo sentir. Fico esperando esse novo encontro que não pode chegar. A
despedida definitiva é sempre embalada por uma dor que fica sendo alimentada
dia-a-dia. A lembrança traz sorriso e choro. Vai sempre trazer. Porque essa
saudade não passa, não merece passar.
Eles estão perto. Estão em mim. É
suficiente saber que o amor era reciproco. Que a saudade era sentida dos dois
lados. Foram pra ficar juntos. Se é pra acreditar no que é eterno, esse é o
momento. Esse de ver que um precisou seguir o outro. Precisou levar amor e
companhia pra perto dela, ainda que tivesse que ir.
A felicidade fica porque posso
lembrar, porque visualizo seus sorrisos juntos. Eram (são) fortes, os dois.
Tanto que deixaram um pouco dessa força por aqui. Espero que um pouco tenha
respingado em mim nesse caminho de gerações. Vou lembrar sempre. Vou sentir
falta sempre. Vou me orgulhar do que consegui viver por perto. Vou me
arrepender do tempo que não tive.
Vou amá-los sempre.