Vou dizer do que eu sinto falta.
Mais do silêncio que da conversa. Mais da distância que da presença. É fácil
acreditar que foi forte quando se tem a distância pra catalisar isso. Essa é a hora de acreditar que qualquer
possibilidade ali estaria fadada ao fracasso. Somos semelhantes à distância.
Funcionamos pelo telefone. Você aprendeu a jogar mensagens e achar a ausência
de respostas natural. Aprendeu a acreditar nas palavras mais que no tom de voz.
Imaginou que a semelhança fosse suficiente para confiar. Imaginou relações
próximas, mudanças, desejou arriscar, foi falando mais alto as palavras que lhe
sugeriram evitar.
A saudade acumulada apagou de
vez.
E chega a parte em que precisa
agradecer. Agradecer o tom melancólico que a vida coloca a sua frente. Agradecer o empurrão de ter que acordar sem
ficar carregando esperanças ancoradas na vida de outra pessoa. Não que tenha tido tempo. Não que tenha sido
limitada a esse ponto. Só aproximou mais do que o corpo e deixou ficar.
Deixou-se ligada, mantendo o lugar vago. Mantendo expectativas e impressões
rasas de quem quer que fosse.
Chega brusco e sem despedidas.
Enquanto saio frágil e descuidada. Soltando frases desconexas pela rua, me
deixando afetar por cada imagem e som que ousam chegar perto.
Estou voltando.
E o que importa é:
A saudade acumulada apagou de vez.