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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Olha...


É com cuidado, com todo o cuidado. Ela pensa em cada palavra, planeja o tom de voz, a velocidade com que vai levando a conversa de um assunto trivial a uma confissão. Uma daquelas que estão explicitas. Fica imaginando o que faz alguém ser tão... tão inexplicavelmente... Como alguém é capaz de fingir... De omitir... tão bem. 

Já faz algum tempo que perdeu essa fragilidade. Já faz algum tempo que aprendeu a desocupar o coração, o que for, das paranoias que se infiltram sem perceber. Já faz algum tempo que ela aceitou que para algumas coisas ninguém amadurece o suficiente. Aprendeu a aceitar o ridículo em que algumas situações lhe colocam, aprendeu isso no momento em que não precisou ser melhor ou pior que qualquer outra pessoa. 

***
Quer voltar, seja pra que lugar for. Ela rasteja entre o sonho e a vida real. Fica esperando que alguma parte da vida se concretize. Não pode dizer que alguém a conhece. Não pode dizer que conhece alguém. Ela se limita a ficar parada, quieta num canto tentando observar detalhes à distância. Ela quer se ver no espelho, daqueles pequenos onde só se vê um pequeno recorte do rosto. Será que vale procurar tantos detalhes próprios? Ela quer se ver. Antes que qualquer um a veja.

Um comentário:

  1. De tanto ouvir ela pensar só me lembro de um Alberto, talvez o Caeiro, que de peito aberto dizia que : "pensar é estar doentes dos olhos".
    Enquanto ela pensa em olhar a imagem no espelho alguém a vê e esperar um olhar que troque (que se toque) e antes que ela queria se ver, ela já foi vista, o olhar acontece em silêncio(talvez por isso valha mais que mil palavras).

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