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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sinceridades?

 
 
Tudo o que penso em dizer é: Ai, como Caio F. tinha razão. Fico, talvez voluntariamente, procurando essas abstrações comuns, essas reações adversas com o mundo, com as pessoas, pra tentar sentir alguém mais próximo de mim. Talvez não seja fácil sustentar esse emaranhado de relações com a sinceridade de cartas trocadas, talvez não seja fácil expor o corpo, a alma, as limitações, os medos... Jogá-los na arena sem mudar o tom, sem baixar ou altear a cabeça. Será que se pode equilibrar tudo? Ou devo baixar a cabeça ou me inflar de um ego que nem sei de onde vem?

Faz bem pro ego claro, descansa um sorriso no canto da boca ouvindo determinados elogios. A certa altura já nem importa se são sinceros ou não. Essa necessidade e sorrisinho leve deixado ao descanso do vento afugentam a razão, quando se dá conta se deixou cair aos pés de quem usou as melhores palavras, ou o som poético, ou o orgulho de braços dados. Importa? A sensação rejeita os fatos.

Se pergunta as vezes se realmente importa o que sente ou o que parece sentir? Sai gritando aos quatro ventos e ares e mares que o corpo e  a alma estão saudáveis, que a vida recomeçou, que encontrou outros benditos “amores”, “amigos”, “lugares”, “ideias”... Ao mesmo tempo uma voz baixa dentro de si fica repetindo o tempo todo: ah se o tempo voltasse, as pessoas podem voltar atrás... Vai alimentando (e mentindo) assim.

Deixa esses sentimentos onde devem ficar, guardados em uma gaveta de casa, quase uma caixa de pandora, quando se abre uma brecha das lembranças as tragédias dessa cabeça volúvel (por vezes) vão tomando seus assentos/lugares. Quem vê de fora talvez não se dê conta da fragilidade absurda que ocupa essas palavras fortes, secas, diretas. Tira o filtro e sai magoando e invadindo por todos os lados a vida de outras pessoas. Quando se aprende a guardar na memória, entre as paredes e folhas e páginas, essas involuntárias reações e gestos e frases?

Talvez realmente o lugar e os dias não façam sentido. Se talvez acreditasse nessas coisas mais espirituais, devesse tentar ficar pulando de uma a outra vida, até encontrar o lugar, tempo e pessoas certas. Sem acreditar, o máximo que posso fazer é ir ocupando os lugares possíveis, sair pelo mundo a procura de alguém com quem conversar, cheia dessa vontade de assumir cada sentimento transbordando, procurando um igual, alguém que tenha essas contradições, essas sensações a flor da pele, de um extremo à outro indo do ódio ao amor (os mais legítimos e verdadeiros parceiros). 

Não sei. No fim da página só resta isso. Não sei. Posso? Devo? Tentando entender esses sentimentos imaturos e impossíveis. Guarda isso pra si, é o melhor que faz. Prende a língua, guarda a necessidade de expressão, e fica aqui parada, passiva. Prendendo as possibilidades em uma ampulheta enquanto espera o tempo esgotar. No fim do dia fica a consciência pesada, de sentir coisas sem falar. De odiar calada às situações impostas. De ficar tentando a leveza guardando pedras nos bolsos. A sinceridade alimenta será? Até que ponto?
 
:::16.12.2010

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