Páginas

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Paciência


De vez em quando olhar é insuportável. De vez em quando a simpatia incomoda. O olhar soa falso, a simpatia soa falsa. E você se perde nos momentos em que se encontram. Ele sabe. Ela sabe. Não fomos feitos pro mesmo espaço. Ela tira a minha paciência, ela tira a minha paz. Ameaça o bom humor de um dia regado a um bom filme, uma boa bebida, uma boa companhia. Procura sustentar a conversa, entra pelas beiradas... invade espaços, ocupa pessoas...

Noite adentro o corpo se contrai, noite adentro o excesso toma espaço. Em silêncio. Entre gritos de um sonho anterior observa os conflitos, aqueles últimos minutos em que fazia sentido confiar. Deixa-os sugarem expectativas,  frustrarem a vantagem da calma, deixa de compreender, deixa a conversa ir rondando a vida de outras pessoas...

Afinal, não importa, não tenho nada com isso, ele pode dizer. Duas pessoas. Três. Duas pessoas. O tempo encontra a medida certa da mudança. É hora de ir, hora do corpo dar espaço aos sentidos, hora de deixar a voz, de deixar os ouvidos perceberem as palavras corretas. Se o sentimento que sufoca transparece já é tarde demais, é tarde pra ter qualquer cuidado, é tarde pra pedir desculpas, é tarde pra falar qualquer coisa.

Os dias avançam e você já não deseja ver, já não importa, nem lembra o som da voz. O telefone se perde da memória, as conversas já rasas desaparecem, e você não sente falta. Os meses avançam e o nome já perde lugar. A paciência é resguardada e uma história recomeça. 

                - Nos conhecemos? 

                - Acho que não. 

                - Faz tanto tempo.

Sussurra o nome ao ouvido. Finge lembrar, finge conhecer. Deixa o silêncio impregnar. Inventa uma desculpa qualquer e vai embora. A noite recomeça. Horas depois a memória carrega um sorriso pra você. Somos diferentes. Continuamos diferentes. O seu silêncio e a minha ausência são finalmente os nossos melhores lugares. Não porque precisem provar, falar... A paciência excessiva só lhes ajudou a corrigir seus próprios caminhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário