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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ausências

A ausência do cotidiano me deixou meio à margem. Poucas coisas surgem e materializam o que ainda não consegui de fato digerir. Poucas dores ficam assim. Guardadas, esperando um ou outro sinal, uma ou outra palavra, esperando que a consciência volte pra te fazer sentir tudo de uma vez, tão atrasado. Tão solitário. Sou de tempos diferentes. Sempre soube. Deixo o sentimento ser nutrido infinitamente, acompanho o passado a uma distância segura. Sem deixar romper, sem deixar passar. Isolo os sentidos, os sons e vou construindo histórias pela memória. O som da voz ainda é vivo aqui. Ainda consigo sentir. Fico esperando esse novo encontro que não pode chegar. A despedida definitiva é sempre embalada por uma dor que fica sendo alimentada dia-a-dia. A lembrança traz sorriso e choro. Vai sempre trazer. Porque essa saudade não passa, não merece passar.

Eles estão perto. Estão em mim. É suficiente saber que o amor era reciproco. Que a saudade era sentida dos dois lados. Foram pra ficar juntos. Se é pra acreditar no que é eterno, esse é o momento. Esse de ver que um precisou seguir o outro. Precisou levar amor e companhia pra perto dela, ainda que tivesse que ir.

A felicidade fica porque posso lembrar, porque visualizo seus sorrisos juntos. Eram (são) fortes, os dois. Tanto que deixaram um pouco dessa força por aqui. Espero que um pouco tenha respingado em mim nesse caminho de gerações. Vou lembrar sempre. Vou sentir falta sempre. Vou me orgulhar do que consegui viver por perto. Vou me arrepender do tempo que não tive.


Vou amá-los sempre.  


Um comentário:

  1. Olá, bonitos textos.

    Também escrevo alguns e cujos nomes são sempre iniciados por fragmentos, achei vc pois tentei registrar um blog com este nome, e ops! estava você lá.

    Segue um pequeno poema sobre a vida e o tempo

    "O tempo é um barquinho que desliza sobre as horas
    e leva para além do horizonte o que tiver de levar.
    O que é de ficar, fica – passe o tempo que passar.
    Fica o cheiro, vão-se as mágoas.
    Fica o gosto, vai-se o toque.
    Fica a lembrança, vai-se a presença.
    Com um oceano inteiro pela frente, impossível ele voltar.
    A gente também segue com a maré,
    mas nunca se esquece do barquinho que um dia passou
    e recolheu tudo que era pra acabar."

    A vida também é um barquinho que seguindo ao horizonte,
    nem sempre segue por linhas retas,
    a costa é curva e o planeta é redondo.
    E ele vai, vai, e seguindo para o horizonte
    pensando que já muito longe está,
    vê uma palmeira, um morro e quando percebe,
    reencontrou seu lugar.
    Ali ele lança âncora, prende o mastro
    e decide ficar, pois a vida de marujo,
    solitário que é, ele descobriu que não quer voltar.
    O barquinho se desprende do tempo, que continua a passar.
    Levando para além do horizonte o que tiver de levar e deixando o que é de ficar.

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