E quanto ao tempo que nos demos? Pode já ter sido suficiente para acalmar ou diminuir essas nossas incoerências, essas nossas manias, esses nossos excessos divididos. Não sei o quanto deveríamos insistir nesse extremo cuidado com as palavras, seria mais simples se só pudéssemos... falar... se só pudéssemos deixar as aparências de lado. Poderíamos voltar a ser aquilo que vivemos em nossas conversas, mas que, de fato, nunca fomos.
Tento imaginar em que parte a sinceridade começou a se perder, em que parte nós tornamos natural machucar um ao outro? Pode haver melhora em nossas conversas se partirmos do hoje, se apagarmos cada uma das frases, cada insulto, cada ironia presente em cada uma de nossas palavras. Não soubemos ser felizes naquele momento. Talvez um dia o tempo cuide de trazer de volta, pelo menos, o carinho que acreditávamos ter um pelo outro.
Posso abrir mão de qualquer coisa, pelo menos agora imagino que possa, antes que a situação que me force a decidir torne a aparecer. Talvez tudo o que consiga fazer com o tempo seja repetir incessantemente os erros anteriores, talvez eu não tenha a esperteza ou a vantagem de conseguir escolher pelo caminho que me leva adiante sem passar pela rota daquele sofrimento repetitivo. Posso te encarar outra vez. Posso te ouvir outra vez. Só não sei se sou capaz de te apagar outra vez.
Acordei mais cedo essa manhã. Quando você decide mudar as coisas esse pode ser um dos primeiros passos, no momento em que você vê o sol surgir pela janela, observa o movimento das nuvens no céu dando espaço à luz, nesses momentos você acredita que os recomeços e que as manhãs realmente podem trazer coisas melhores. Você acredita, com a inocência de uma criança que aprende a iludir-se achando que as bolhas resistem ao vento.
Sob dois pontos de vista você aprende a levar a vida.
Enchendo-se de esperança, avaliando as próprias escolhas, os próprios erros, repetindo pra si mesmo o quanto deseja e é capaz de transformar-se. Enquanto o amanhecer lhe preenche com a ideia de que as novas coisas, historias são possíveis, enquanto a esperança lhe preenche de ar puro.
No fim do dia, no pôr-do-sol você expira. Você, de certa forma, vai soltando seus medos enquanto o escuro preenche o céu, vai deixando a esperança dar lugar à calma, à uma paz que pretende repetir em cada um dos dias. Você esvazia-se de sentimentos deixando o corpo e o que mais for livre pra manhã.
Entre o amanhecer e o pôr-do-sol você se deixa a mercê dos movimentos diários da vida. Você se deixa prisioneira dessas frases que tem medo de ouvir, dessas histórias ... como se elas se infiltrassem como ar, aquele que o sol forte carrega pra dentro do corpo e deixa escapar quando a lua surge.
Ainda não conseguiu... ainda permite... ainda está presa ... No reflexo, no espelho, no caminho... daquela garota que deixava a vida de outros guia-la, naquela que teve a primeira conversa com você, naquela que fingiu estar impregnada de liberdade quando tudo o que fez não era mais nada do que esperavam que ela fizesse.
Talvez por isso você já não possa reconhecê-la.
Eu pûde ouvir vc lendo. Voz calma e baixa.
ResponderExcluirMuito lindo, amiga!
bjs
arquiteto
ResponderExcluir(ag)ora
o cenário do céu
sem céu e que – as estrelas sabem –
o crepúsculo urra no tédio
eu – arquiteto de cárceres
da memória do cinzazul
desnudo
do que fui além distante
uma e outra
palavra se es-
vazia no grito dos olhos
já fúnebres
a urdir a poesia
minha voz
já amarga (n)os tentáculos
do tempo e as pedras
que me consomem
este poeta
de ecos desva
irados
(ex)pira e (ex)trai
(d)as rochas duras
(d)o seu caminho
polindo as unhas
há rugas no papel
entretecido
onde a poesia a sorver
labirintos de granito
explora todo sibilar
do seu enigma
a pedra se faz poema
e verte poesia
do próprio ventre
bruta não quase-paraíso
mas fragmentos
sobre a língua
vestida de fantasmas
como um gueto âmbar
sem saída
eu – arquiteto de cárceres
da memória do cinzazul
desnudo
do que fui além distante